
E Foi Desenvolvido pelo carnavalesco Mário Borriello, E dos Compositores da Obra-Prima, Arizão,
Guaracy, Celso Trindade, Bala e Demá Chagas.
“Fico feliz de ver como o samba ficou na memória. Vejo gente que nasceu
após 93 cantar e sempre me emociono”, disse Demá Chagas.
Com o rebaixamento de três escolas no
Carnaval de 1992, finalmente a Liesa atingiu para 1993 o objetivo de
limitar o número de agremiações do Grupo Especial a 14. Por tabela,
estava eliminado o que, para a entidade, era um grande problema: os
desfiles sob a luz do sol.
E uma outra medida no regulamento dava a dimensão das
dificuldades pelas quais as escolas atravessavam: o número máximo de
alegorias seria de 12, em vez de 15, e a quantidade mínima seria nove.
A crise econômica acabou se refletindo
nos desfiles e, salvo poucas exceções, a qualidade de alegorias e
fantasias acabou sendo inferior à de outros carnavais. Mas isso, de
forma nenhuma, significou que as escolas se apresentaram mal. Ao
contrário: as escolas, na maioria, fizeram apresentações com muito samba
no pé.
As expectativas para o Carnaval de 1993
eram diversas, mas uma ausência seria muito sentida: pela primeira vez
desde 1973, Joãozinho Trinta não assinaria nenhum desfile no Grupo
Especial. A substituta na Beija-Flor seria a carnavalesca Maria Augusta,
que levaria à Sapucaí o enredo “Uni-duni-tê, a Beija-Flor Escolheu, É
Você!”, sobre o imaginário infantil.
Depois do título de 1992, a Estácio de
Sá escolheu uma temática completamente diferente. O enredo “A Dança da
Lua” era baseado numa lenda dos índios Karajás sobre a lua e suas quatro
fases. A vice-campeã Mocidade optou por um enredo mais leve: “Marraio,
Feridô, sou Rei”, sobre o universo dos jogos.
Havia grande expectativa em relação ao
Salgueiro, que desfilaria com o enredo “Peguei um Ita no Norte”, sobre
os migrantes do Norte e Nordeste do Brasil que tentavam a sorte no
Centro-Sul. O samba-enredo já se mostrava com uma grande pegada com o
refrão “Explode Coração”, embora as eliminatórias tenham sido polêmicas,
já que o samba de Sereno e parceiros, era poético e considerado melhor tecnicamente.
Outra escola que dava esperanças aos
seus torcedores era a Portela, que contratou o carnavalesco Mário
Monteiro, campeão pela Estácio, para desenvolver “Cerimônia de
Casamento”, que prometia levar ao público tudo sobre a tradicional
instituição.
Terceira colocada em 1992, a Imperatriz
Leopoldinense contaria a história do Carnaval desde o nascimento
de Cândido José de Araújo Viana, o Marquês de Sapucaí, ocorrido
exatamente duzentos anos antes.
Já a Estação Primeira de Mangueira faria
um enredo sobre o fruto manga e ainda uma auto-homenagem. A Viradouro,
depois do desastre de 1992, falaria sobre o amor, enquanto a União da
Ilha voltaria às suas características de leveza e irreverência, e teria
como temática o circo.
A Unidos de Vila Isabel, depois de quase
ser rebaixada, tentaria a volta por cima com um enredo de temática
negra: “Gbala, Viagem ao Tempo da Criação”, sobre a criação e evolução
do homem sob a ótica religiosa africana e com a esperança de um futuro
melhor repousada nas crianças. O samba de Martinho da Vila era o melhor
do ano.
A polêmica da fase pré-carnavalesca
residia em Pilares. Na volta à Caprichosos, o carnavalesco Luiz Fernando
Reis prometia exaltar o subúrbio, mas uma alegoria sobre a Zona Sul com
uma prostituta e um assalto a um turista não caíram bem para a Liesa e a
Riotur.
Completavam o desfile de 1993 Unidos da
Tijuca, falando sobre as danças brasileiras, e as emergentes Grande Rio,
com outro enredo sobre a Lua mas com viés diferente, e Unidos da Ponte,
que abriria os desfiles contando a história das máscaras.
OS DESFILES
Com o perdão do trocadilho, a Ponte
acabou não conseguindo mostrar a cara e o desfile não foi dos melhores.
Três dos nove carros alegóricos quebraram, o que fez a escola desfilar
com um número de alegorias abaixo do exigido pelo regulamento.
Para piorar, a chuva comprometeu o
acabamento de carros e fantasias, sem contar que havia poucas máscaras
num desfile sobre máscaras – no Acesso, a Tradição desfilou com o mesmo
tema e passou bem melhor, a ponto de ser campeã.

O enredo desenvolvido pelo saudoso
carnavalesco Oswaldo Jardim foi passado com muita coerência, mesmo com a
escola ainda enfrentando sérias dificuldades financeiras.
A chuva ainda insistia em atrapalhar,
mas a criatividade das fantasias e alegorias ficou evidente,
principalmente no carro “Criação do Homem”, que tinha pessoas sendo
“moldadas” em barro.
Não dava para a Vila brigar lá em cima,
já que outras escolas mais bem estruturadas viriam a desfilar. Mas a
Azul e Branco deu muito bem o recado de que estava viva. O samba dizia “Gbala é resgatar, salvar”, e a escola estava mesmo salva.
Já a União da Ilha entrou na avenida com
um enredo diferente, sobre os tipos de circo. O carnavalesco Silvio
Cunha, ex-Portela, abordou desde os circos na época medieval até os
circos da televisão e da Fórmula 1, com direito a trocadilho no samba: “O domador quando entra em ‘Senna’ não dá mole pro Leão”, numa referência ao tricampeão e ao rival Nigel Mansell.
A verdade é que essa parte do desfile
foi inferior à que abordava os palhaços e o espetáculo circense, no caso
o ponto alto da exibição insulana. Nesse setor, destacou-se o grande
palhaço Carequinha, ainda em boa forma.
Foi uma apresentação alegre, com a cara
da Ilha, e o público pela primeira vez naquele ano ficou mais empolgado,
até porque a bateria de Mestre Paulão brilhou com diversas paradinhas.
Em seguida entrou na Sapucaí a Unidos do
Viradouro, levando ao público o amor em diferentes aspectos, desde o
amor à própria escola até o amor pela natureza ou pela liberdade e
também famosos romances como o de Maria Bonita e Lampião.
Max Lopes, apoiado pelo então jovem
Mauro Quintaes, voltou a brilhar na concepção de alegorias (como a do
amor de Tiradentes pela liberdade) e fantasias, mas a escola acabou
realizando uma apresentação fria, e com problemas de evolução.
Isso porque, depois dos problemas
causados pelo incêndio e a perda de pontos em cronometragem em 1992, a
direção de harmonia da escola apertou o passo dos componentes desde o
início do desfile, que acabou tendo claros em alguns momentos.
Sempre aguardada com ansiedade, a
Mocidade Independente de Padre Miguel pisou forte na pista para tentar
recuperar o título. Antes do desfile, o patrono Castor de Andrade foi
vaiado após fazer um discurso inflamado contra a “perseguição” aos
bicheiros encampada pela juíza Denise Frossard – meses depois, Castor e
outros patronos de escolas de samba seriam condenados a prisão.

A comissão de frente representava o
Dream Team do basquete americano da Olimpíada de Barcelona, e era
formada por jogadores negros e carecas. Jogos como dados, xadrez e bola
de gude (que, aliás, tinha referência no título do enredo) não foram
esquecidos.
Mas
o grande destaque em termos de alegorias foi o carro “Diversões
Eletrônicas” (foto), com um menino gigante jogando videogame com um
joystick. O garoto usava um óculos 3D cujas lentes eram televisores e a
ideia surtiu belo efeito. Além disso, o carro emitia sons de videogame.
O samba, para o meu gosto, era bem
inferior aos dos três anos anteriores, mas até que a harmonia da escola
esteve bem. E, claro, a Bateria Nota 10 teve atuação segura. O desfile
foi o melhor do ano até aquele momento, e a Mocidade brigaria sem dúvida
pelas primeiras posições, embora em posição não tão forte como de 1990 a
1992.
A Portela foi a penúltima escola a
desfilar no domingo (já era madrugada de segunda) e não teve uma
apresentação das melhores. O enredo sobre o casamento teve alguns bons
momentos em alegorias e nem tanto em fantasias, já que a Majestade do
Samba sempre teve no luxo dos figurinos o ponto forte e a concepção
naquele ano foi diferente.
A águia desfilou acompanhada por uma
fêmea e um filhote, numa bela ideia do carnavalesco Mário Monteiro. As
alas estavam bem divididas, apesar da concepção das fantasias, e a
formação da família, bem como temas modernos como o Casamento Gay e os
relacionamentos sem compromisso, foram apresentados ao público.
O samba era agradável e a condução da
Tabajara do Samba era garantia de uma boa nota. Mas o público não se
empolgou tanto e a Azul e Branco deixou a Sapucaí com um gosto de quero
mais. A crítica de “O Globo” carregou nas tintas: “Os componentes, que começaram animados, terminaram arrastando os pés. Muitos chegaram à Apoteose literalmente andando.”
Falando em Apoteose, no fim a bateria
foi mal posicionada à direita da pista, por onde deveriam passar as
alegorias. Isso gerou confusão na dispersão e um bate-boca entre
diretores da escola – o presidente Carlinhos Maracanã teve de intervir
pessoalmente para amenizar os ânimos.

A comissão de frente (foto) esteve
simplesmente espetacular, com figurinos de extremo bom gosto que
remetiam ao tempo da nobreza imperial, com suas inconfundíveis máscaras.
Era a primeira de uma série de comissões de frente da Imperatriz que
marcariam época nos desfiles.
A Rainha de Ramos relembrou os tempos
das grandes sociedades e das celebrações nas ruas, e prestou linda
homenagem aos carnavalescos que abrilhantaram o Carnaval contemporâneo,
como Fernando Pinto, Arlindo Rodrigues, Joãozinho Trinta e Viriato
Ferreira, que chegou a trabalhar com Rosa na criação das fantasias
daquele desfile, mas morreu no fim de 1992.
O samba teve ótimo rendimento no
desfile, com Preto Joia (vencedor do Estandarte de Ouro daquele ano) e
Rixxa primorosos no canto, e a bateria mostrou um excelente andamento,
nem tão rápido nem tão cadenciado.
De volta ao Grupo Especial, a Acadêmicos
do Grande Rio abriu muito bem a segunda noite de desfiles. O enredo
sobre a lua foi bem desenvolvido pelo carnavalesco Alexandre Louzada,
com um conjunto alegórico pertinente ao tema e boas fantasias.
O samba cantado pelo estreante Nêgo caiu no gosto popular com o refrão central “Ô luar, ô luar / Vem pratear a nossa rua / A semente da fartura semear / Virar o mundo de bumbum pra lua” sendo entoado a plenos pulmões por componentes e público.
As diferentes fases da lua, a lua de mel
e até a corrida espacial rumo ao satélite da Terra foram abordadas no
desfile, que deixou a clara sensação de que manteria a agremiação na
elite do Carnaval carioca com folga.
Com o carnavalesco Luiz Fernando Reis de
volta, a Caprichosos foi a segunda a desfilar, e a apresentação foi
decepcionante. Não sei houve problemas de recursos ou de barracão, mas
esteticamente a escola esteve bem inferior às demais.
O enredo sobre o subúrbio, polêmico
desde a escolha, poderia ter sido tratado de uma forma mais poética e
não tão agressiva, exaltando o que a Zona Norte tem de melhor e não
deixando no ar um confronto Zona Norte/Sul ou Norte/Oeste.
Além disso, o samba-enredo não era dos
melhores, e por isso mesmo não foi uma apresentação das mais empolgadas
que a simpática escola de Pilares fez na sua passagem pela elite do
Carnaval carioca.
O desfile seguinte foi o que considero até hoje o mais empolgante de qualquer escola de samba de todos os tempos – já foi tema até de uma coluna minha no Ouro de Tolo.
Isso porque o que o Salgueiro fez na noite de 22 de fevereiro de 1993
dificilmente será igualado algum dia. Aliás, a própria agremiação da
Tijuca equivocadamente tentou manter a fórmula de samba estilo Ita e se
deu mal.
Mas
voltando a 1993, salgueirenses
famosos estavam entorpecidos de emoção durante o cortejo, como o cantor
Jorge Ben Jor, o ator Eri Johnson e a triatleta Fernanda Keller. Na
Cabine da TV Globo, Fernando Vannucci dava o tom do que estava
acontecendo:
“Dá vontade de sair da cabine e ir lá fora cantar. Não preciso falar mais nada. O povo fala!”
Mas não foi apenas um samba contagiante
que ganhou aquele Carnaval. O enredo, inspirado na canção de Dorival
Caymmi e que falava de uma viagem de Belém ao Rio, retratando as
diferentes culturas do Brasil, foi muito bem contado.

As fantasias estavam superiores às
alegorias e criaram um conjunto de cores belíssimo, com o vermelho e
branco da escola sendo valorizados, mas ao mesmo tempo intercalados com
prata e ouro.
O Ita, ou melhor, o desfile, fez
diversas paradas em cidades brasileiras e no fim o sonho realizado da
chegada da embarcação ao Rio de Janeiro não foi apoteótico apenas no que
o enredo contava, mas na prática também.
Falar do rendimento do samba é chover no
molhado e a comunicação com o público foi ainda melhor do que a Estácio
conseguiu em 1992. Houve momentos em que mal se ouvia o carro de som,
tamanha a euforia do público, que fez coreografia em todos os setores de
arquibancada.

O único pecado do Salgueiro foi a
evolução. Como de costume, a escola desfilou inchada, com cerca de 5 mil
componentes, e houve alguns descompassos. Para piorar, a porta bandeira
Taninha caiu em frente a um módulo de jurados e, dependendo do sorteio
das notas, poderia haver perda de pontos.
De qualquer forma, foi uma apresentação
inesquecível e o Salgueiro era super hiper mega favorito ao título salvo
alguma outra catarse pouco provável àquela altura.
Passado o grande desfile salgueirense, a
Unidos da Tijuca entrou na passarela com o enredo “Dança, Brasil”,
sobre as diversas danças de nosso país desde o descobrimento até aquela
época.
Com o público ainda cansado depois de
cantar e vibrar na apresentação do Salgueiro, a Tijuca também não ajudou
ao fazer um desfile morno, até porque o samba não era vibrante e
visualmente o conjunto não era dos melhores.
Já a campeã Estácio de Sá teve um
desfile repleto de problemas e acabou não reeditando a excelente
apresentação do ano anterior. Minutos depois de a escola ter iniciado
sua exibição, carro de som quebrou e Dominguinhos parou de cantar o
samba. A Vermelho e Branco exigia que o relógio fosse zerado e tudo
recomeçasse, mas o presidente da Liesa, Capitão Guimarães, não aceitou.
Depois de uma áspera discussão, Dominguinhos recomeçou a cantar quando o cronômetro já marcava nove minutos.
Com isso, além de a escola ter esfriado, a Estácio teve uma evolução
apressada e “esburacada” o tempo todo e, para piorar, o próprio sistema
de som falhou depois, o que matou de vez a harmonia da escola.
De qualquer forma, a despeito de o samba
ser melódico e de figurinos e alegorias terem qualidade, o desfile
sobre a lenda karajá e as fases da lua não empolgou. O tema era mais
denso do que aquele apresentado pela Grande Rio, que sem dúvida teve
melhor comunicação com o público.
Sem Joãozinho Trinta, a Beija-Flor fez
uma agradável, bonita e correta, mas morna apresentação. Maria Augusta
deu sua cara ao Carnaval da escola, com alegorias multicoloridas e de
fácil leitura, mesmo sem serem tão grandes como as de desfiles
anteriores da escola.
No entanto, para o meu gosto, isso não
impediu que a escola apresentasse muito bem o enredo sobre a infância. A
qualidade de acabamento de figurinos e carros e o bom gosto eram
indiscutíveis. Nos demais quesitos a escola passou bem, mas, de fato,
faltou um item fundamental: empolgação.
Aí vale relembrar uma história contada
por Neguinho da Beija-Flor anos mais tarde. Segundo o grande cantor, ele
chegou à Sapucaí “derrotado” depois de ver pela televisão o incrível
desfile do Salgueiro. Não sei se por isso, o samba foi cantado num tom
um pouco abaixo (e menos alegre) do que na gravação do CD. Fato é que os
componentes cantaram, sim, mas sem aquele “sangue nos olhos” típico da
comunidade nilopolitana.
Pelo sim, pelo não, Neguinho jura que,
desde então, não vê mais os desfiles anteriores ao da Beija-Flor… Mas
fato é que a Deusa da Passarela deu muito bem o seu recado em 1993.

O samba, como de costume, foi elevado a
um outro patamar graças à interpretação sem igual de Jamelão, que
recebeu o competente apoio de Sobrinho e Eraldo Caê. A Bateria de Mestre
Taranta teve um excelente andamento e era quase uma certeza de nota
máxima.
O enredo sobre a manga foi bem
desenvolvido e as origens do fruto, bem como a multiplicação em outros
países, foram traduzidas em um bom conjunto alegórico e de fantasias.
Alguns torceram o nariz pelo fato de o carnavalesco Ilvamar Magalhães
ter usado diversas cores, sem se ater muito ao verde e o rosa. Mas não
compartilho dessa opinião, e a divisão cromática foi coerente para que o
enredo se propunha.
A última parte do desfile foi dedicada a uma auto-homenagem e um belo trecho do samba dizia
“Entre tantos tipos de mangueira / Há uma especial na Estação Primeira /
Ela simboliza o samba / É união de gente bamba / Onde desabrocham
tantas flores”.
A Mangueira manteve-se empolgada até o
fim de sua apresentação, que, no entanto, teve falhas de evolução. O
carro da caravela (foto acima), onde estava Angélica, era muito alto e
não passava pela torre de TV.
A escola parou por alguns minutos até a
apresentadora ser retirada e empurradores vencerem a torre na marra,
danificando o topo da alegoria. Apesar disso, foi o melhor desfile
mangueirense em anos e a escola poderia brigar em cima.
REPERCUSSÃO E APURAÇÃO
Terminado o desfile de 1993, a
expectativa era a de uma vitória do Salgueiro, pelo conjunto da obra e a
empolgação de sua exibição. Imperatriz, Mangueira e Mocidade, também
com ótimas apresentações, poderiam incomodar, mas nem o salgueirense
mais pessimista temia um revés.
Na apuração, o Salgueiro, mesmo
merecendo a vitória, acabou tendo uma dose de sorte, pois, no sorteio
dos julgadores, a jurada do módulo no qual a porta-bandeira Taninha
sofrera sua queda não teve a nota computada.
A única ameaça ao título salgueirense
por incrível que pareça foi a Beija-Flor, de quem não se falava muito,
mas esteve empatada na liderança com a Vermelho e Branco até o quinto de
dez quesitos.
Mas nos últimos quesitos o Salgueiro
consolidou a vitória que quebrou o jejum de 18 anos sem títulos, e a
escola de Nilópolis perdeu o vice para a Imperatriz, que, de fato,
desfilou melhor.
Completaram o grupo das cinco primeiras
colocadas a Mocidade e a Mangueira. Como foram comprovadas tentativas de
manipulação de resultados, não houve rebaixamento para 1994 e as duas
últimas colocadas, Caprichosos e Unidos da Ponte, foram salvas.
“Todo ano eles nos garfavam, mas esse ano deu. O Salgueiro merecia esse título há muito tempo”, desabafou Miro, patrono do Salgueiro.
Alívio também para Taninha pelo fato de
sua queda não ter prejudicado o Salgueiro. Ao ouvir a terceira nota 10
válida ela começou a chorar abraçada à bandeira da escola:
“Eu já tinha acabado minha evolução e
estava saindo quando tropecei num cabo de TV. Parecia que o mundo tinha
caído junto comigo.”
Julgadora do módulo em que Taninha caiu,
Beatriz Badejo, que deu nota 9,5, disse ter ficado tão nervosa quanto
Taninha por causa da queda, mas confirmou que já havia dado um sinal ao
casal informando que o julgamento já havia terminado.
Caprichosos de Pilares e Unidos da Ponte
saíram rebaixadas da apuração, mas uma comprovação de manipulação de
resultados fez a Liesa determinar que não haveria descenso para 1994.
RESULTADO OFICIAL
POS. | ESCOLA | PONTOS |
1º | Acadêmicos do Salgueiro | 300,5 |
2º | Imperatriz Leopoldinense | 298 |
3º | Beija-Flor de Nilópolis | 296,5 |
4º | Mocidade Independente de Padre Miguel | 295,5 |
5º | Estação Primeira de Mangueira | 292,5 |
6º | Estácio de Sá | 289,5 |
7º | Unidos do Viradouro | 289 |
8º | Unidos de Vila Isabel | 287 |
9º | Acadêmicos do Grande Rio | 286 |
10º | Portela | 280,5 |
11º | União da Ilha do Governador | 279 |
12º | Unidos da Tijuca | 278 |
13º | Caprichosos de Pilares | 275,5 |
14º | Unidos da Ponte | 245,5 |
Em outro desfile de ótimo nível no Grupo
de Acesso, subiram para a elite Tradição e Império Serrano. Como já
contado, a Tradição fez um enredo sobre as máscaras no Carnaval,
enquanto o Império fez uma autoexaltação, desta vez sem tom de protesto,
com um extraordinário samba de autoria de Aluízio Machado.
Quarto a desfilar na sexta feira, em um
desfile que pela primeira vez teve dois dias, o Império foi a escola
mais aclamada pelo público, pois, além de um samba melhor e um enredo
muito bem contado, apresentou um luxo e requinte nos conjuntos visuais
não visto nos dois anos anteriores, sobretudo em 1991, quando caiu do
Grupo Especial.
A comissão de frente foi impactante, com
11 imperadores do samba com capas de veludo verde bordadas. Havia duas
alegorias com a coroa imperial, a primeira e a última, e diversas alas
tinham o símbolo da escola. O Império foi recebido na Apoteose com
gritos de “é campeã”.
Já a Tradição foi a última escola a
desfilar na primeira noite, já na manhã de sábado de Carnaval. Com o
sambódromo quase vazio, a escola de Campinho arrancou aplausos dos que
permaneciam, pois também fez um excelente desfile na defesa do enredo
“Não me leve a mal, hoje é Carnaval”.
A história das máscaras na África,
Egito, China e aqui, no Carnaval brasileiro, foi muito bem dividida no
enredo desenvolvido por Lícia Lacerda. O samba-enredo, mesmo inferior aos da época das obras de João Nogueira e Paulo César Pinheiro, era de qualidade e foi bem cantado na pista.
A apuração foi até tranquila para a
Tradição, que obteve só uma nota diferente de 10 nas 30 válidas – 8 em
samba-enredo. A escola somou 310 pontos contra 305 do Império. A
distante terceira colocada foi a Unidos do Cabuçu, que homenageando
Maurício de Sousa e os personagens da Turma da Mônica somou os mesmos
291 pontos da Santa Cruz e levou a melhor no desempate – quesito Ala das
Baianas.
Foi rebaixada a última colocada Mocidade
Unida de Jacarepaguá, enquanto três escolas subiram do Grupo B: a
campeã Unidos de Villa Rica (“Quem não arrisca, não petisca, façam o
jogo), a vice Canários de Laranjeiras (“Kaleidoscópio) e a terceira
colocada Independentes de Cordovil (“Ogum, o que veio da África”).
CURIOSIDADES
– Como já havia ocorrido em 1988, a
Manchete não pôde transmitir os desfiles do Grupo Especial do Rio. A
emissora acabou tendo de concentrar sua cobertura no Carnaval da Bahia,
que estava crescendo em âmbito nacional, e o narrador Paulo Stein foi
para Salvador narrar os shows dos trios elétricos.
-A Estácio de Sá fez seu esquenta com o
samba Globeleza, que ficara famoso nos anos anteriores sempre nas vozes
dos intérpretes campeões vigentes, no caso Dominguinhos. O samba foi
composto por ninguém menos do que Jorge Aragão.
– Sem a Manchete para concorrer com ela,
a Globo montou um timaço de comentaristas para o desfile de 1993:
Fernando Vannucci na narração, com comentários de Albino Pinheiro,
Sérgio Cabral, Jorge Aragão e Leci Brandão.
– A transmissão do Grupo de Acesso de
1993 ficou a cargo da recém-criada OM. O comentarista principal era o
grande Dominguinhos do Estácio, que se mostrou muito desenvolto na
função. Outra atração era Paulo Silvino, que atuou como repórter na
concentração e mostrou a habitual irreverência nas entrevistas – nos
casos das entrevistas com mulheres, por que não dizer, saliência…
– Com o nono lugar em 1993, a Grande Rio consolidou sua permanência no Grupo Especial, de onde jamais saiu até hoje.
– O belo samba-enredo da Beija-Flor teve
como um dos autores o compositor Edeor de Paula, o mesmo de “Os
Sertões”, considerado por muito bamba o melhor samba de todos os tempos.
– O extraordinário intérprete Rixxa foi
um quase bi vice-campeão em 1993. No Acesso, ele gravou o lindo samba
“Império Serrano, um ato de amor”, de autoria de Arlindo Cruz, Aluízio
Machado, Bicalho e Acyr Marques, mas não desfilou devido a divergências
com a diretoria. No Grupo Especial, Rixxa cantou ao lado de Preto Joia
na Imperatriz. No ano seguinte, ele seria o cantor do Arrastão de
Cascadura no Acesso e apoio de Jamelão na Mangueira.
– Em 1993, duas das musas do Carnaval Carioca estiveram em escolas nas quais o público não estava acostumado a
ver: Monique Evans desfilou pelo Estácio de Sá e Luma de Oliveira, pela
Mangueira.
– Duas escolas do Acesso homenagearam a
Mangueira. A Unidos do Jacarezinho, com o enredo “Mangueira, Beleza Que a
Natureza Criou”, e a Mocidade Unida de Jacarepaguá, com “Dona Zica e
Dona Neuma, Enredos de Verdade”. Num desfile com 16 escolas, a
Jacarezinho acabou em 13º lugar e, como já escrito, a Mocidade Unida em
último, rebaixada.
CANTINHO DO EDITOR – por Pedro Migão
1993 marca a única vez em que se
comprovou tentativa de manipulação de resultados. Foram divulgadas
escutas telefônicas envolvendo a Grande Rio, a Caprichosos e a
manipulação de resultados via jurados. Como consequência, não houve
rebaixamento.
Antes mesmo do desfile a Caprichosos
estava envolvida em polêmica. A Riotur fez muita pressão para que a
agremiação alterasse o abre alas, que mostrava um pivete assaltando um
turista e uma prostituta na Zona Sul. A escola optou por não alterar sua
alegoria.
A Portela chegou como grande favorita ao
desfile de 1993, especialmente devido à contratação do Carnavalesco
campeão no ano anterior Mário Monteiro. Muitos portelenses colocam a
culpa do fiasco na figurinista da Globo Beth Filipecki, responsável
pelas Fantasias, que teria desenhado roupas para novelas e não Fantasias
de Carnaval.
Além dos problemas no som, a Estácio
claramente sentiu com o gigantismo que acomete escolas campeãs no ano
anterior. Estima-se que a agremiação trouxe 7 mil componentes.
Chama a atenção a diferença de pontos entre as duas escolas promovidas ao Grupo Especial e as demais – 15.
A Carnavalesca da Beija Flor Maria
Augusta muitos anos depois afirmou que teve muitos problemas internos
para a realização do carnaval da escola, inclusive com uma possível
sabotagem em um dos carros. A escola trouxe no abre alas seu símbolo, a
ave que batiza a escola de Nilópolis.
O Grupo C desfilou na Av. Rio Branco e
teve o primeiro título do Boi da Ilha do Governador (saudades), com a
Acadêmicos de Vigário Geral e a Boêmios de Inhaúma também promovidas. A
Flor da Mina do Andaraí ganhou o Grupo de Avaliação e ascendeu ao Grupo C
acompanhada pela Mocidade Unida do Santa Marta e pela Acadêmicos do
Dendê – outra que iniciaria à época uma ascensão meteórica movida a
dinheiro “alternativo”, digamos.
Abaixo, a capa do Jornal do Brasil da Quarta Feira de Cinzas daquele ano.
Clica Aqui e Rever os Vídeos do Carnaval 1993.
A opinião é a mesma do autor Demá Chagas. “Foi impressionante.
Todo mundo entrou no clima. Torcedor com a camisa da Mangueira, da
Beija-Flor, policiais, repórteres. Todo mundo cantava, maravilhado com a
passagem do Salgueiro”.
Referência quando o assunto é
samba-enredo, Neguinho da Beija-Flor dá a palavra definitiva sobre
aquele Carnaval. “O Salgueiro foi a terceira escola a desfilar. Mas
quando eu ouvi aquele samba e vi o desfile, sabia que o título estava
definido”.
CANTE O SAMBA
Lá vou eu, lá vou eu
Me levo pelo mar da sedução
Sou mais um aventureiro
Rumo ao Rio de Janeiro
Adeus, adeus
Adeus, Belém do Pará
Um dia volto, meu pai
Não chore, pois vou sorrir
Felicidade, o velho Ita vai partir
Me levo pelo mar da sedução
Sou mais um aventureiro
Rumo ao Rio de Janeiro
Adeus, adeus
Adeus, Belém do Pará
Um dia volto, meu pai
Não chore, pois vou sorrir
Felicidade, o velho Ita vai partir
Oi no balanço das ondas, eu vou
No mar eu jogo a saudade, amor
O tempo traz esperança
E ansiedade
Vou navegando em busca da
felicidade
No mar eu jogo a saudade, amor
O tempo traz esperança
E ansiedade
Vou navegando em busca da
felicidade
Em cada porto que passo
Eu vejo e retrato em fantasias
Cultura, folclore e hábitos
Com isso refaço minha alegria
Eu vejo e retrato em fantasias
Cultura, folclore e hábitos
Com isso refaço minha alegria
Chego ao Rio de Janeiro
Terra do samba, da mulata
e futebol
Vou vivendo o dia a dia
Embalado na magia
Do seu Carnaval,
Explode Coração
Na maior felicidade
É lindo o meu Salgueiro
Contagiando sacudindo essa
cidade
Terra do samba, da mulata
e futebol
Vou vivendo o dia a dia
Embalado na magia
Do seu Carnaval,
Explode Coração
Na maior felicidade
É lindo o meu Salgueiro
Contagiando sacudindo essa
cidade
FONTE: JORNAL O DIA E OURO DE TOLO
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