
Entre os inúmeros eventos
promovidos pelo Caixeiral ao longo de seus anos de existência, merecem
destaque seus carnavais de salão - eternos e muito concorridos. O
primeiro baile de carnaval do clube ocorreu no ano de 1956, inclusive,
na ocasião, eleita a 1ª Rainha de Carnaval da entidade - Irady Centena
Carriconde (Botelho) e a 1ª Duquesinha - Maria Helena Peter (Silveira).
Devido aos inúmeros problemas que o carnaval vem sofrendo pelo país,
não sendo diferente em Arroio Grande, principalmente pelos elevados
custos com organização e fantasias, desde o carnaval de 2014 o Clube
Caixeiral de Arroio Grande não conta mais com a presença das
tradicionais "Soberanas do Carnaval" em seus bailes - o que espera-se
que retornem novamente a abrilhantar o carnaval da Cidade Simpatia.
A Rádio Difusora, que sempre valorizou o carnaval arroio-grandense,
entrevistou Dona Irady, a primeira rainha, através de uma conversa muito
descontraída com o comunicador Lili Araújo que foi carinhosamente
recebido na casa do casal Tati e Fábio Conceição (ela, filha da rainha).
Confira a entrevista:
RD: COMO OCORREU O CONVITE PARA A SENHORA SER RAINHA DO CLUBE CAIXEIRAL?
IRADY: O convite foi feito direto à mim pelo João Lisboa (eu morava com
ele e a esposa Lauracy). Ele era diretor do clube. O presidente na
época era o Sr. Felisbino Soares.
RD: COMO OCORREU A COROAÇÃO? FOI EM BAILE DE GALA OU NO PRIMEIRO DIA DE CARNAVAL?
IRADY: A minha coroação aconteceu em um Baile de Gala realizado semanas
antes do carnaval, em um sábado, se não me engano! Quem me coroou foi o
Seu Pompeo Cardoso, muito popular no Clube (depois de mim, era sempre
ele que conduzia às rainhas até o trono para coroação). Lembro que o
cetro e a coroa (que foram comprados pelo clube) foram conduzidos até o
trono pela "Nairzinha" e pelo "Puruca". Ah!!! E tinha o manto também, eu
usei! (RISOS) Nesse baile de coroação, a minha corte me acompanhou;
ficavam posicionados nas laterais do trono, os homens de um lado e as
mulheres de outro; eu desfilei pelo meio deles em direção ao trono. No
dia seguinte (domingo), à tarde, aconteceu a coroação da Maria Helena, a
primeira duquesinha, e fui Eu a convidada para coroá-la, pois, como não
havia outra, não tinha quem coroá-la.
RD: DURANTE O CARNAVAL, A SENHORA USOU VESTIDO OU FANTASIA?
IRADY: Durante o carnaval eu usei 2 vestidos, um todo branco e o outro
todo vermelho. Naquela época as rainhas do carnaval não usavam, ainda,
fantasias.
RD: DE QUEM FOI A CRIAÇÃO E CONFECÇÃO DE SEU VESTIDO?
IRADY: Meus vestidos foram criados e confeccionados pela costureira Lauracy Ioost Lisboa. Eu morava com ela!
RD: E A SUA CORTE, USOU FANTASIA?
IRADY: Sim!!! Durante o carnaval a minha corte usou fantasia. O nome da fantasia deles acho que não tinha, não lembro!
RD: VOCÊS DESFILAVAM NO CENTRO EM CARROS ALEGÓRICOS?
IRADY: A gente passava sim no centro, mas não tinha carro alegórico.
Desfilávamos em carros fechados, mas com muita "buzina", indo em direção
ao clube. No Centro ficavam apenas os Blocos da época e os "Mascarados"
fazendo festa... os blocos daqui costumavam ir visitar o carnaval
Herval...
RD: E VISITA ENTRE OS CLUBES, ACONTECIA DURANTE OS DIAS DE CARNAVAL?
IRADY: Sim!!! Inclusive Eu recebi a visita de uma rainha de fora da
cidade, acho que de Pedro Osório (não me lembro bem... mas acho que é!).
A Jussara também me visitou e eu visitei ela. Do Guarany não recebi
visita de ninguém, nem fui lá visitar também... infelizmente, né! Havia
muito preconceito naquela época... Uma pena isso acontecer! Não teve
também vista ao baile infantil, como acontece hoje, nem a duquesinha me
visitou. Não era costume na época.
RD: DEIXE SUA MEMÓRIA FALAR:
CONTE-NOS UM POUCO DE COMO FOI O SEU REINADO E A EXPERIÊNCIA DE TER SIDO
RAINHA DO CLUBE CAIXEIRAL:
IRADY: Foi muito lindo! Eu me sentia
uma verdadeira "rainha" (RISOS), porque não me deixavam fazer nada...
Lembro que fui levada para fora (pro interior) para "engordar um pouco"
(RISOS) - Eu era muito magrinha, pesava 45 quilos, e todos achavam que
não iria aguentar as quatro noites de carnaval. Mas aguentei (mais de
quatro noites, por sinal) e foi muito bom! Foram quatro noites oficiais
de bailes adultos, animados pela Banda Farroupilha que tocava muitas
marchinhas e sambas. Uma semana antes do carnaval saíam os livrinhos com
a letra das marchinhas da época; eu comprava e ficava do lado do rádio
ouvindo as marchinhas e cantando junto com Emilinha Borba, Ângela Maria e
outras da época. Era assim que a gente ensaiava porque no baile todo
mundo tinha que saber sabia cantar as marchinhas do início ao fim... Era
muito divertido aquela época... Os bailes iam até 5 e meia / 6 horas da
manhã... Foi tão bom aquele carnaval que praticamente durou 1 semana.
Depois que passou os 4 dias de carnaval, quando a gente queria começar a
guardar as roupas... surgia um novo convite da "Jussara Rodrigues", que
era a rainha do Clube Instrução e Recreio (que é hoje o Clube do
Comércio), para ir junto com a minha corte para mais um baile de
carnaval que o clube iria promover. Daí o Caixeiral, para não ficar
atrás do "Instrução", também fazia mais um baile... e assim ficamos uma
semana inteira, um clube disputando com o outro quem fazia mais bailes
(RISOS). Lembro também de ter ganhado uma caixa com 3 tubos de
"lança-perfume" (que era a sensação dos bailes, igual as "espuminhas"
hoje), atirávamos uns nos outros no salão... era muito divertido!
Naquela época, o lança-perfume ainda não estava proibido. Além dele,
haviam muitos confetes e serpentinas... era muito bom! Hoje terminou
tudo...
RD: E A COROAÇÃO DA SUA SUCESSORA, COMO OCORREU?
IRADY: Disso eu não lembro, porque no ano seguinte (1957) eu estava
morando longe com minha família, não pude vir para o carnaval. Depois de
mim foi a Neli Peter a rainha. Foi o presidente do clube que coroou
ela.
Hoje com 80 anos, Dona Irady ainda é só alegria e
vitalidade. Adora carnaval e sua família inteira é muito carnavalesca: o
filho (Max Carriconde) foi Duque do Clube Caixeiral, duas netas
(Gabrielle e Carolina) foram Duquesinhas (uma no Caixeiral e outra no
Clube do Comércio), o neto (Guilherme) foi Duque no Caixeiral e a filha,
Tati Conceição, juntamente com o esposo Fábio, são os fundadores do
atual "Bloco do Caroço". Dona Irady, por longos anos, também
confeccionou muitas fantasias que foram usadas por rainhas e Duquesinhas
de Arroio Grande. Foi ainda, integrante do Grupo Folclórico Farroupilha
- que deu origem ao atual CTG Tropeiros da Querência.
Reportagem: Lizandro Araújo - RD
Foto: Arquivo Pessoal
Foto: Arquivo Pessoal
FONTE: FACEBOOK DA RÁDIO DIFUSORA
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